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Jornalista, torcedor incondicional do Vasco da Gama e defensor ferrenho da liberdade de pensamento.

sexta-feira, 12 de abril de 2013



Água-viva

Gotas de chumbo:
Cor que desprende das nuvens cinzentas,
Lágrimas frias dos ventos do Norte,
Chuva de vidro na sombra da noite...

- Grito profundo do homem que sofre
Quando da vida recebe os açoites!

Águas que passam e rastejam navios
Mar que desaba revolto no chão:
- Quem te ensinou o trajeto dos rios
Não te ensinou a seguir coração!

Gotas de orvalho:
Dor que derrete do vale dos olhos,
Pingos que dançam em asas faceiras
De borboletas vibrantes ao sol...

- Voo elegante sobre as trepadeiras
De beija-flores sob o arrebol!

Águas que lançam o furor dos invernos
Mas que ignoram o estupor do verão:
- Quem te ensinou a esquecer os desertos
Não te ensinou a calar coração?

segunda-feira, 25 de julho de 2011


Eterna viagem

Estou partindo dessa vida - não por acaso
mas pra fugir da dor do mundo, suas duras mãos
corro da sina de viver trancafiado
procuro o espaço pra compor minha direção

Viajarei por estas luzes, por este brilho
verei mil sóis, claros faróis na escuridão
meu corpo leve na harmonia do infinito
meus pés despidos perfilando a imensidão

Flutuarei por entre nuvens e cometas
antigos mundos, etéreas casas, vastos luares
sobre o meu dorso transparecerão estrelas
desaguarei nos mares da Eternidade

Antes de ir, como herança às tempestades
eu deixarei meu grito rouco em teu silêncio
falsos amores, outros sonhos, tantas saudades
para ecoar nas cinzas do teu pensamento...

sexta-feira, 8 de julho de 2011


Dia da morte

Quando soar no tempo o instante fulminante
e minha presença já não for mais necessária
não quero ouvir por mim discursos e reclames
nem falsos olhos ver por mim verterem lágrimas

Quando cessar sob este céu meu passo errante
minha alegria deixo sobre o chão da estrada
como herança, meu sorriso em teu semblante
meu desalento recomposto em serenatas

Tal como o sol que se põe calmo no horizonte
desejo a fonte dos crepúsculos imortais
e uma brisa leve que carregue ao mar distante
a dor cortante que penei nos meus umbrais

Deixe eu sentir toda a beleza rutilante
do rebentar da aurora ao fim da madrugada
quero cravar na alma a força desse instante
e despertar sob uma nova alvorada!

sábado, 18 de junho de 2011


O último crime

Uma janela se abre
no alto da torre, a procura do tempo.
E o que se vislumbra
é apenas um horizonte sombrio...

Na torre um homem,
olhar taciturno, espreita o silêncio.
E o som que carrega um grito profano

são gritos humanos no seu pensamento:

- "Que fazes agora, ó homem insano?
Que fazias antes, em tuas primaveras?
No claro do dia posavas de santo
À sombra da noite soltavas as feras!"

O homem vagueia
na sala vazia, perdido no rumo.
No peso dos ombros
o fardo de todos os crimes...

As vozes que gritam
de dia e de noite, nas suas entranhas,
não lhe são estranhas.
São vozes que um dia enterrara profundo:

- "Que dizes agora, ó homem maldito?
Que és nesse instante de escrota miséria?
Em vida tu foste constante perigo
Na morte, aos vermes, serás vil matéria!"

O homem confuso,
olhar taciturno, revolve à janela.
Espreita o horizonte
um pouco menos sombrio...

- E as vozes se calam, no exato instante fatal!

Àquele homem já não existem portas abertas.
Somente uma janela para o crime final...

terça-feira, 7 de junho de 2011




Ode ao Sertão

Nestas tardes de verão, de sol a pino
onde o tempo se atormenta à claridade
onde o chão resiste inculto e inteiro arde
se equilibra a plantação, vasta de espinhos

O coração do sertanejo chora baixinho
olhos secos, refletindo a imensidade
de um Sertão grande, de valente mocidade
de um Sertão bravo, tão severo e tão sozinho

Das macambiras, açucenas e quadrilhas
do gado magro, chapéu de couro do vaqueiro
panos de chita, do Reisado e do Guerreiro
ergue-se um povo a cantar suas maravilhas

E nas noites de luar o Sertão vibra
estremece nas cordas de um violeiro
cantos de ouro, versos simples e brejeiros
rendem-se às glórias de um Sertão farto de vida!

sábado, 4 de junho de 2011


O Poeta
(a Narcélio Lima)

O poeta é um transeunte de destinos
por vielas de injúrias e de preces
por caminhos de cristãos e de hereges
segue rente à multidão, segue sozinho

Fiel compositor de descaminhos
é a ponte entre Deus, a terra e o homem
é o príncipe dos contos, o lobisomem
segue rente à ilusão, em desatino

O poeta tudo sabe e tudo diz
não cultiva a triste sina da verdade
livre e só, não reconhece a Realidade
segue rente à Eternidade - segue feliz!

segunda-feira, 9 de maio de 2011


Prelúdio da primavera

Surge o sol sobre as matas bravias
e declara a partida da noite
e derrete sobre as flores baldias
brilho findo da estação das cores

É manhã, o rouxinol pronuncia
num cantar de sangrar coração:
- É o fim da primavera-alegria
vem de longe o inevitável verão!

Brilha o sol - o girassol anuncia
o caminho pra encerrar a canção
e dormir a estação da poesia

Mas não há de esfriar a paixão
em setembro ressurge a alegria
- Outra vez sorrirá o coração!




terça-feira, 3 de maio de 2011



Aposta

B
usquei meu futuro em ases de cartomante
Quiromante minhas mãos lançou seu olhar
De azar, jogos fui apostar minha sorte
Nem o dia da morte se deixou revelar

Rolam lágrimas frias de meus olhos soturnos
No escuro caminho junto ao meu talismã
E em sã consciência sigo em frente, indeciso
Sem saber quais perigos surgirão de manhã

Se construo nos versos o meu falso destino
Descortino o caminho para a despedida
E das lidas palavras dessa posta-restante
O que resta é o instante de uma aposta perdida

Que esperar da aurora, tão suspeita, imprecisa?
Que dizer desta vida, rotineira estação?
Coração bate fraco, em compasso de vento
Dos meus pés sinto o tempo escoar pelo chão...

segunda-feira, 28 de março de 2011


Espanto-me

Espanto-me ao te ver sorrir
Com tanta simplicidade
Com jeito de quem quer fingir
Que a regra da vida é sonhar

Que o amor é navio que viaja
Por tantos lugares
Mas leva consigo a vontade
Tão terna, tão simples vontade
De em porto seguro atracar

Espanto-me ao te ver mentir
Sem prumo, sem dignidade
No afã de querer encobrir
O que se tentou revelar

Que o amor é um rio que navega
Por tantas paisagens
Mas leva consigo a vaidade
Tão longa, soberba vaidade
De um dia tornar-se alto mar

Espanto-me ao te ver partir
Sem rumo, por todos os ares
Sem mesmo tentar descobrir
O que lhe restou do lugar

E assim nosso amor chega ao fim
De sua última tarde
E encerra consigo a saudade
Tão fria, tão franca saudade
E nunca mais regressar...

O Nascimento do poema

J
á sinto as palavras arderem
No meu pensamento
Um certo sabor de mistério
Rondando o lugar
Imagens de coisas passadas
Me vêm à memória
Pedindo passagem nos versos
Que irei declamar

Percebo o olor sugestivo
Da flor campesina
Da pedra de beira de rio
Da velha infância
E traço em linhas cadentes
De rimas e ritmos
Um ode de alegorias
De belas lembranças

Está pra nascer um poema!
Não ponha limites
De ideias, de simbologias
De coisas esparsas
Que tudo é matéria corrente
E cabe nos versos
De mãos de poetas velados
Pela madrugada...

sábado, 8 de janeiro de 2011


Impiedosa
(à Lucila Souza)

B
rotada dos campos silvestres
Pensei que das flores tu eras!
- Besteiras! Tu não podes ser flor -
Pois que tu não transpiras amor
Nem nasceste das primaveras

Composta das harpas celestes
Pensei: da canção tu surgiste!
- Mas qual! Tu não podes ser música -
E por mais que me inspires de musa
Tua nota de dor é mais firme

Erguida dos mares do leste
Pensei: és das águas nascida!
- Verdade! Tu és filha dos mares -
E afogaste sem penalidade
Minha pouca esperança à deriva...


O Passageiro

Quem vê esse homem no trem
Com ar de despreocupado
Não sabe que ele contém
Segredos dissimulados

Pensa ser homem de bem
Com seu destino ocupado
Mas traz consigo reféns
mistérios trancafiados

Quem vê seu olhar sem desdém
Não sabe os crimes que tem
Nas estações do passado

Quem vê-lo vagando no trem
Desconhece que lhe convém
Pra sempre ficar calado

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010


A poeira do tempo

O começo de tudo era o pó:
Rastros de cinzas no ar
Pegadas de carvão no horizonte
Desenhos de fumaça moldando o espaço

E a batuta de Deus ditando o compasso
De um resto de tempo
Incessante a passar...

E o meio de tudo ainda é o pó:
O pó da bagunça dos móveis
Dos rastilhos de pólvora
Revólveres!

O pó-de-arroz no rosto da menina
Nas construções de cimento
No refino da cocaína
Nos entulhos da cidade
A se deteriorar...

E o fim disso tudo, amigos,
No fim de tudo o destino:
Tudo o que é vivo
Se desmanchará em pó!

E assim se cumprirá a velha profecia:
Aquilo que do pó fora erguido
Ao pó fatalmente irá retornar...

domingo, 12 de dezembro de 2010


Senhora de si
(Dedicado à Nayara Ribeiro)

Sempre senhora de si
Senhora de sua vida
Tão triunfante a seguir
para a batalha da lida!

Tão satisfeita de si
Senhora de seus desejos
por que tripudias assim
Se tudo o que peço é um beijo?

Tão consciente de si
Senhora de seus costumes
O que reclamas enfim
Senhora de seus queixumes?

Tão gloriosa de si
Senhora de tantas idas
Por que não volta e sorri
Sem hora de despedida?


De Petrarca a Alencar

Não vá se prender às regras
De uma métrica perfeita
Não vá se render à sina
De uma rima regular

Só se tiver o gênio
De Petrarca até Bandeira
Se versejar nas letras
De Cecília a Alencar...